A conservação da natureza se traduz em complexos desafios em campo e por isso a FVA adota uma abordagem multidisciplinar no seu trabalho. A conciliação entre os aspectos da conservação da biodiversidade e desenvolvimento socioeconômico demanda competências específicas em temas como desenvolvimento de empreendimentos comunitários sustentáveis, elaboração de programas de capacitação e educação para formação cidadã adaptados ao contexto amazônico, fortalecimento das organizações comunitária, geração de conhecimento científico e apoio a políticas públicas eficientes. Estes temas de trabalho são integrados às estratégias de ação da FVA e constituem assim os Programas Técnicos da instituição.
• Alternativas Econômicas;
• Organização Social;
• Educação;
• Pesquisa Científica;
• Políticas Públicas.
Alternativas Econômicas
Um dos maiores desafios da FVA é viabilizar a geração de renda e de desenvolvimento social para as comunidades residentes na bacia do rio Negro tendo como princípio o uso racional e sustentável dos recursos naturais. Esse processo exige conhecimento sobre as comunidades ribeirinhas e embasamento científico para a exploração sustentável dos recursos naturais. É também importante estar atento às tendências dos mercados regionais e mundiais identificando oportunidades que atendam ao perfil das comunidades.
Os projetos da FVA têm como foco o apoio aos grupos sociais locais na geração de renda baseada nos recursos naturais da bacia do rio Negro, especialmente nos produtos florestais não-madeireiros como fibras vegetais, frutos e óleos. A dinamização do artesanato de fibras vegetais é um dos focos da FVA. Desenvolver alternativas de geração de renda é um enorme desafio em regiões como o baixo rio Negro, onde existem enormes restrições ao uso de recursos naturais impostas pelas áreas protegidas. Por isso, a criação da Reserva Extrativista do Rio Unini, apoiada pela FVA, propiciou uma oportunidade excelente para a implementação de projetos neste tema. Técnicos da FVA estão desenvolvendo estratégias de beneficiamento e fortalecimento das cadeias produtivas da borracha (Hevea brasiliensis), castanha-da-Amazônia (Berthotethia excelsa), arumã (Ischinosiphon spp.), cipós titica e ambé (Heteropsis spp.) e da farinha de mandioca. A FVA vem, também, desenvolvendo experiências-piloto em turismo de base comunitária e ecoturismo.
Organização social
O baixo nível de implementação de políticas públicas de educação e saúde pelo poder público municipal e estadual é sistêmico em toda região amazonica. Além disso, as áreas protegidas onde residem populações tradicionais normalmente dificultam ainda mais a prestação de serviços públicos básicos. Este contexto desfavorável tem como consequência a falta de valorização, por parte das populações locais, da própria riqueza cultural e de seu papel na central na região e na sociedade brasileira de forma geral. A FVA considera que somente através do fortalecimento das organizações comunitárias as populações do rio Negro se constituirão em agentes protagonistas e independentes no processo de desenvolvimento socioambiental da região.
A FVA auxilia os comunitários neste processo de organização, criação e gestão de associações e cooperativas representativas de seus interesses. Um dos resultados desta abordagem foi a criação da Associação dos Artesãos de Novo Airão (AANA), que busca a consolidação do artesanato como alternativa de renda para as famílias associadas. A FVA foi também fundamental no processo de fortalecimento da Associação dos Moradores do Rio Unini (AMORU), protagonista do processo de criação da Reserva Extrativista do Rio Unini. Através de cursos e oficinas, a FVA busca instrumentalizar os comunitários e lideranças no aperfeiçoamento da gestão de suas entidades. Também buscamos o fortalecimento político destes grupos, para que eles participem de forma propositiva, autônoma e crítica nos espaços políticos em que são decididos aspectos importantes diversos relativos à suas vidas (p. ex. Conselhos Gestores de Unidades de Conservação).
Educação
Hoje, mais do que nunca, acreditamos que a educação deve constituir a base do desenvolvimento social. Esta afirmativa é ainda mais relevante em regiões como o rio Negro, onde o acesso a educação básica e de qualidade é bastante restrito O baixo nível de educação formal entre os moradores do rio Negro contrasta com o enorme patrimônio de conhecimento tradicional que estes moradores detêm sobre a biodiversidade da região. Também, estas populações têm uma trajetória histórica e cultural de enorme riqueza e única na Amazônia. A valorização deste rico acervo cultural e ambiental deve fazer parte de qualquer estratégia educacional, formal ou não, que vise transformar estas populações em agentes ativos na conservação da biodiversidade regional e protagonistas na busca por melhores condições de vida.
As abordagens de educação adotadas pela FVA são diversas. Recentemente, a FVA realizou um diagnóstico da situação do ensino formal no município de Novo Airão que identificou os principais problemas da educação nesta região. Este diagnóstico auxiliou a FVA na consolidação de um projeto político-pedagógico para subsidiar sua atuação no município. Nas atividades educacionais, os técnicos da FVA buscam levar aos comunitários um melhor entendimento do contexto institucional onde vivem, especialmente nos aspectos relacionados às áreas protegidas. A FVA produziu materiais como cartilhas e desenvolveu oficinas educativas com objetivo de levar a estas comunidades os conceitos básicos relativos à legislação ambiental e como as UCs afetam a vidas das populações locais. Também desenvolveu oficinas com professores que resultaram em publicações que valorizam seu conhecimento, ajudando no estabelecimento de conteúdos pedagógicos adaptados à região, assim como vem realizando cursos de cunho técnico nas áreas de artesanato, agroecologia e turismo de base comunitária.
Pesquisa Científica
A conservação da biodiversidade deve estar alicerçada em sólidas bases científicas. Em uma região tão complexa social e ambientalmente como a bacia do rio Negro existe uma enorme demanda de conhecimento científico. As estratégias das pesquisas adotadas pela FVA respeitam a natureza multidisciplinar do conhecimento e a valorização do conhecimento tradicional das populações do rio Negro.
A FVA, além de manter o seu próprio corpo de pesquisadores, investe fortemente no estabelecimento de parcerias com instituições de pesquisa da Amazônia e de outras regiões do país. Além disso, a adoção de modernas tecnologias científicas, como o geoprocessamento, fazem parte da estratégia da FVA na consolidação de seu Programa de Conhecimento e Conservação. A FVA atua na geração de conhecimentos multidisciplinares, principalmente nas áreas biológica e social, para subsidiar a gestão das áreas protegidas do baixo rio Negro. A partir desta abordagem, a FVA foi responsável pela elaboração dos planos de manejo do Parque Nacional do Jaú, do Parque Estadual do Rio Negro setor norte e da Reserva Extrativista do Rio Unini. Um aspecto de destaque nas pesquisas desenvolvidas na FVA é a consolidação do geoprocessamento como ferramenta de trabalho. A partir desta técnica são gerados mapas da diversidade ambiental (p. ex. solos, geologia, vegetação) de nossa região de atuação. A FVA, também foi pioneira no desenvolvimento de métodos participativos de mapeamento do uso de recursos naturais integrando o conhecimento tradicional das populações ribeirinhas a modernas técnicas de sistemas de informações geográficas. Outras importantes linhas de atuação da FVA são a documentação da rica biodiversidade da bacia do rio Negro e o estudo das espécies da fauna e flora que estão sob uso pelas populações ribeirinhas, com destaque para as fibras vegetais. Como resultado de anos de trabalhos de campo, a FVA tem dado uma importante contribuição ao conhecimento da diversidade biológica, social e ecossistêmica da bacia do rio Negro. Todas as pesquisas realizadas levam em consideração a legislação vigente e têm como premissa a geração de conhecimento voltado à gestão de áreas protegidas e ao manejo sustentável dos recursos naturais pelas comunidades. A FVA não desenvolve atividades de acesso ao patrimônio genético brasileiro e a conhecimentos tradicionais associados a componentes deste patrimônio.
Políticas Públicas
Historicamente, as políticas de desenvolvimento da Amazônia levaram a enormes problemas ambientais e poucos benefícios para as populações que residem na região. Esta situação se deu porque as decisões políticas que incidem diretamente sobre a região são tomadas por políticos e empresários que não estão familiarizados com as características ambientais e sociais únicas da Amazônia, assim como por tomadas de decisão equivocadas que não incluíram a participação de atores locais em seus processos. Por isso, em suas estratégias de políticas públicas, a FVA busca influenciar decisões, atitudes e legislação, em busca do favorecimento da conservação do meio ambiente e da melhoria da qualidade de vida dos habitantes da região amazônica.
A principal estratégia de políticas públicas adotada pela FVA é atuar em redes de organizações visando fortalecer seus argumentos em prol de um desenvolvimento humano com base na conservação da natureza. A FVA participou da criação e atua ativamente junto ao Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), uma rede de instituições reconhecida como a mais representativa da sociedade civil da Amazônia. A FVA é membro do Fórum Brasileiro de Organizações Não Governamentais e Movimentos Sociais (FBOMS) e através de sua atuação no Fórum, teve participação ativa na negociação do projeto de lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Recentemente a FVA ajudou na criação e vem atuando ativamente na consolidação da Rede Rio Negro, um coletivo de organizações atuantes no Rio Negro visando uma maior cooperação institucional. No cenário internacional, a FVA é membro da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
Esta atuação pública é ainda fortalecida pela contribuição da FVA nos diversos conselhos e comitês públicos de caráter participativo. Destacamos a participação no Conselho Estadual do Meio Ambiente do Amazonas, o Conselho Estadual da Reserva da Biosfera da Amazônia Central, o Comitê do Programa ARPA (Áreas Protegidas da Amazônia) do governo federal, assim como dos conselhos de Unidades de Conservação no baixo rio Negro.